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por adminjangadeiro - 08/06/2025 às 15:39
Por Iury Costa e Jefferson Sales
O levantamento feito pelo SEBRAE mostra uma dicotomia alegre e triste ao mesmo tempo. Empreendedores negros já são hoje mais da metade dos donos de negócios no país, com 15,6 milhões de pessoas construindo diariamente seus sonhos. Por outro lado, esse protagonismo numérico esbarra em desafios históricos. Profissionais negros ainda são os que possuem o rendimento mais baixo, têm menor acesso à formalização e enfrentam os efeitos da desigualdade de gênero e raça. Foi a partir desse cenário que Neide Rodrigues resolveu fazer a diferença. Decidiu, no meio da pandemia, criar a Casa de Xicas, uma loja colaborativa que dá visibilidade ao trabalho de outras mulheres negras que, assim como ela, buscavam fortalecer seus negócios.
“A gente tem capacitação. Não só técnica, mas também dessa relação de mulheres com mulheres, essa relação da negritude” , pontua.
Neide Rodrigues, fundadora da Casa de Xicas
Para Neide, a Casa de Xicas é mais que uma vitrine. É um lugar de acolhimento, formação e fortalecimento cultural. A loja reúne produtos de mais de 20 empreendedoras negras que trabalham com moda, acessórios, cosméticos naturais, decoração e gastronomia.
Da comunidade à joalheria: a história da Brilho da Oxum
Um desses negócios é a Brilho da Oxum, marca de jóias criada pela Damillys Kelly e a sua esposa Luiza Helena. O espaço onde as peças são feitas, para além de um local de criação, também carrega ancestralidade e resistência. Damillys explica que “a Brilho ela surgiu do instinto de sobrevivência. Eu e Luiza viemos da comunidade do Pirambu, e acredito que esse foi um dos maiores motivadores… quem vem daquela realidade precisa sempre de uma renda extra”.
A Brilho da Oxum produz joias em prata, e tenta resgatar símbolos da cultura afro-brasileira. A prata, inclusive, foi escolhida como produto de trabalho por sua resistência, uma metáfora da própria história das criadoras da marca.
Damillys e Luiza, fundadoras da Brilho da Oxum
Informalidade ainda é obstáculo
Claro, não é um trabalho fácil. Damillys e Luiza venceram a informalidade, mas ainda é um desafio para diversas pessoas. Um levantamento do SEBRAE aponta que 41% dos empreendedores negros estão no setor de serviços, e 22% no comércio. Por outro lado, menos de 25% deles possuem o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o CNPJ.
Distribuição dos empreendedores negros por setor no Brasil
A articuladora da Escola de Negócios do SEBRAE Ceará, Mônica Arruda, lembra que a informalidade dificulta o acesso a crédito, proteção previdenciária e um crescimento mais estruturado. “Existem alguns desafios que são estruturais: questão cultural, desigualdade econômica… mas que aos poucos vão sendo superados.” Mais da metade dos empreendedores negros, 56%, têm ensino médio ou superior completo. Ainda assim, enfrentam dificuldades desiguais no mercado. Mulheres negras, por exemplo, ganham em média apenas 39% da renda de um homem branco empreendedor.
Enquanto parte do país ainda se pergunta como reduzir desigualdades, mulheres como Neide, Damillys e Luiza seguem criando soluções na prática. Seus negócios são, ao mesmo tempo, sustento e revolução. O apoio de entidades públicas ou privadas, como o SEBRAE, mostram que é possível construir, com as próprias mãos, caminhos de liberdade, geração de renda e valorização cultural. Cada produto vendido por elas não carrega só trabalho, mas história, memória e futuro. Porque empreender também é uma forma de existir e resistir.
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